José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai e símbolo da esquerda latino-americana, morreu na terça-feira, 13 de maio, aos 89 anos, em Montevidéu. O líder político, conhecido principalmente pelo estilo de vida austero e pela defesa de valores humanistas, vinha enfrentando um câncer no esôfago diagnosticado em abril de 2024.
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No mesmo mês, o próprio Mujica declarou que o tumor havia se espalhado para o fígado e que, por ser “um velho no final da vida”, seu corpo não resistiria a tratamentos invasivos.
“Não posso fazer nenhum tratamento bioquímico nem cirurgia porque meu corpo não aguenta”, disse ele, em uma das últimas entrevistas. “Estou morrendo. O que peço é que me deixem em paz.” Ao lado da esposa, Lucía Topolanski, Mujica passou seus últimos dias recebendo cuidados paliativos.
Apesar da gravidade da doença, o ex-presidente uruguaio permaneceu lúcido até o fim e emocionou ao declarar: “O guerreiro tem direito ao seu descanso”. A morte de Pepe Mujica encerra um ciclo marcado por coerência, simplicidade bem como o amor pela vida, como ele mesmo dizia.
Pepe Mujica: Símbolo da simplicidade e resistência política
Ao longo das últimas décadas, Pepe Mujica construiu uma trajetória incomum no cenário político latino-americano. Nascido em 1935, de origem humilde, ele ingressou na luta armada contra a ditadura militar do Uruguai como militante do grupo Tupamaros. Preso durante o regime autoritário, passou 14 anos atrás das grades, sendo torturado e mantido em solitárias.
Após ser libertado com a anistia em 1985, Mujica trocou as armas pela política institucional. Ajudou a fundar a Frente Ampla, coalizão de esquerda que o levaria à Presidência em 2010. Em sua gestão, promoveu políticas progressistas como a legalização da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização do aborto.
José Pepe Mujica recusou o conforto do palácio presidencial e continuou vivendo em sua chácara nos arredores de Montevidéu. Lá, cultivava crisântemos, criava animais e mantinha o hábito de ler e conservar alimentos em potes de vidro. Ele doava até 90% do seu salário de presidente, afirmando que “há pessoas que precisam mais”.
Seu cachorro de três patas, seu trator e a horta no quintal se tornaram símbolos de uma liderança autêntica e conectada ao povo. Mujica sempre dizia: “A vida é linda. Com todos os seus altos e baixos, eu amo a vida. E estou perdendo-a porque é minha hora de ir embora.”
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Nos meses finais, Pepe Mujica concedeu uma tocante entrevista ao New York Times, onde refletiu sobre o sentido da existência. “Só existe uma vida e ela acaba. Você tem que dar sentido a ela. Lute pela felicidade, não apenas pela riqueza.”
Ele também fez críticas à humanidade, dizendo: “O homem é inteligente e estúpido ao mesmo tempo. Em vez de armas, deveríamos estar construindo moinhos de vento.”
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Apesar de debilitado, não perdeu o senso de humor. Ao falar sobre sua imagem pública, comentou: “Gostaria de ser lembrado como um velho maluco.” Até seus últimos momentos, manteve uma visão crítica e poética da existência: “Quando estou no campo com o trator, às vezes paro para ver como um passarinho constrói seu ninho. Ele nasceu com o programa. Ele já é arquiteto. Ninguém o ensinou.”
O ex-presidente também demonstrava preocupação com os rumos da sociedade moderna. “Espero que a vida humana seja prolongada, mas estou preocupado. Há muita gente louca com armas atômicas. Muito fanatismo.”
José Pepe Mujica ainda sofria de uma doença autoimune há mais de 20 anos, que afetava seus rins. Em julho de 2024, sua esposa chegou a dizer que ele enfrentava “o momento mais difícil”, mas seguia “otimista”.
Apesar do sofrimento, o ex-presidente do Uruguai partiu com serenidade.
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Fonte: OFuxico