Papa Leão XIV cobra ética na IA e alerta para riscos à dignidade humana

O papa Leão XIV afirma que empresas de tecnologia que desenvolvem inteligência artificial devem seguir um “critério ético” que respeite a dignidade humana.

A IA deve levar “em consideração o bem-estar da pessoa humana não apenas materialmente, mas também intelectual e espiritualmente”, disse o papa em mensagem enviada na sexta-feira (20) a um encontro sobre IA com a participação de autoridades do Vaticano e executivos do Vale do Silício.

“Nenhuma geração teve acesso tão rápido à quantidade de informações agora disponíveis através da IA”, reforçou ele. Mas “o acesso aos dados — por mais extenso que seja — não deve ser confundido com inteligência.”

Ele também expressou preocupação sobre o impacto da IA no “desenvolvimento intelectual e neurológico” das crianças, escrevendo que “o bem-estar da sociedade depende de lhes ser dada a capacidade de desenvolver seus dons e capacidades concedidos por Deus.”

Essa declaração do Papa ocorreu no segundo dia de um encontro de dois dias com líderes de tecnologia em Roma para discutir as implicações sociais e éticas da inteligência artificial. A segunda Conferência Anual de IA em Roma contou com representantes de líderes em IA, incluindo Google, OpenAI, Anthropic, IBM, Meta e Palantir, junto com acadêmicos de Harvard e Stanford e representantes da Santa Sé.

O evento acontece em um momento um tanto tenso para a IA, com a tecnologia avançando rapidamente e prometendo melhorar a produtividade dos trabalhadores, acelerar pesquisas e erradicar doenças, mas também ameaçando tomar empregos humanos, produzir desinformação, agravar a crise climática e criar capacidades ainda mais poderosas de armamento e vigilância.

Alguns líderes de tecnologia têm resistido a regulamentações destinadas a garantir que a IA seja usada de forma responsável, alegando que poderiam dificultar a inovação e a competição global.

“Em alguns casos, a IA tem sido usada de maneiras positivas e verdadeiramente nobres para promover maior igualdade, mas existe também a possibilidade de seu uso indevido para ganho egoísta às custas de outros, ou pior, para fomentar conflito e agressão”, disse o papa em sua declaração.

Embora não tenha poder regulatório direto, o Vaticano tem sido cada vez mais vocal sobre políticas de IA, buscando usar sua influência para impulsionar desenvolvimentos tecnológicos éticos.

Em 2020, o Vaticano organizou um evento onde líderes de tecnologia, reguladores da UE e o falecido Papa Francisco discutiram IA “centrada no ser humano”, que resultou no Chamado de Roma para a Ética na IA, um documento delineando considerações éticas para o desenvolvimento de algoritmos de IA. IBM, Microsoft e Qualcomm estavam entre os signatários que concordaram em seguir os princípios do documento.

Dois anos depois, Francisco pediu um tratado internacional para regular o uso da IA e impedir o surgimento de uma “ditadura tecnológica”. Nessa declaração — que veio meses depois que uma imagem gerada por IA do Francisco usando um casaco volumoso viralizou — ele levantou preocupações sobre armas de IA e sistemas de vigilância, além de interferência eleitoral e desigualdade crescente. Em 2024, ele se tornou o primeiro papa a participar da cúpula do G7, estabelecendo a estrutura ética para o desenvolvimento da IA que ele esperava que grandes empresas de tecnologia e governos adotassem.

Quando o Papa Leão XIV se tornou líder da Igreja Católica no mês passado, ele sinalizou que seu papado seguiria os passos de Francisco em temas de reforma da igreja e engajamento com a IA como um dos principais desafios para os trabalhadores e a “dignidade humana”.

O novo pontífice escolheu se nomear após o Papa Leão XIII, que liderou a igreja durante a revolução industrial e emitiu um documento de ensino histórico que apoiava os direitos dos trabalhadores a um salário justo e a formar sindicatos. Com o desenvolvimento da IA representando uma revolução semelhante à do século XIX, Leão sugeriu que o ensino social da igreja — que oferece uma estrutura para se envolver com política e negócios — seja usado quando se trata de novos avanços tecnológicos.

“Em nossos dias, a igreja oferece a todos o tesouro de seu ensino social em resposta a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos no campo da inteligência artificial que apresentam novos desafios para a defesa da dignidade humana, justiça e trabalho“, disse Leão naquele discurso de maio.

O evento de sexta-feira (20), que aconteceu dentro do palácio apostólico do Vaticano, incluiu uma mesa redonda sobre ética e governança da IA. Entre os presentes do lado do Vaticano estavam o Arcebispo Vincenzo Paglia, que tem se envolvido com líderes empresariais sobre IA, e o Arcebispo Edgar Peña Parra, que ocupa o cargo de “sostituto” (substituto) no Vaticano, equivalente a chefe de gabinete papal.

No início desta semana, Leão XlV fez referência à IA durante um discurso aos bispos italianos, falando sobre “desafios” que “colocam em questão” o respeito pela dignidade humana.

“A inteligência artificial, biotecnologias, economia de dados e mídias sociais estão transformando profundamente nossa percepção e nossa experiência de vida”, afirmou ele.

“Neste cenário, a dignidade humana corre o risco de se tornar diminuída ou esquecida, substituída por funções, automatismos, simulações. Mas a pessoa não é um sistema de algoritmos: ela é uma criatura, relacionamento, mistério.”

Uma questão central no evento de sexta-feira é a governança da IA, ou como as empresas que a desenvolvem devem equilibrar sua necessidade de gerar lucro e responsabilidades com acionistas junto ao imperativo de não causar danos ao mundo. Essa conversa é especialmente urgente em um momento em que os Estados Unidos estão prestes a enfraquecer a aplicação de grande parte das limitadas regulamentações existentes sobre IA, com uma provisão na proposta de agenda do Presidente Donald Trump que proibiria a aplicação de leis estaduais sobre IA por 10 anos.

Em sua declaração, o papa convocou líderes de tecnologia a reconhecer e respeitar “o que é caracteristicamente único da pessoa humana” enquanto buscam desenvolver uma estrutura ética para o desenvolvimento da IA.

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