O Impostômetro, painel eletrônico que registra a quantidade de tributos pagos em todo país, deve contabilizar, na tarde desta quinta-feira (3/7), que os brasileiros desembolsaram R$ 2 trilhões no pagamento de impostos neste ano.
O total representa um aumento de 11,1% em relação ao mesmo período de 2024, quando o painel marcava R$ 1,8 trilhão. No ano passado, essa marca só foi alcançada em 21 de julho.
Economistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que o crescimento da arrecadação com impostos está relacionado ao avanço da atividade econômica, à melhora na fiscalização e à adoção de novas medidas por parte do governo federal.
Dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) indicam que o Impostômetro registrou, pela primeira vez, o valor de R$ 2 trilhões em impostos pagos 10 anos atrás, em 9 de dezembro de 2015.
Impostômetro
- O Impostômetro é um painel eletrônico fixado na sede da Associação Comercial de São Paulo, no centro histórico da capital paulista. Em funcionamento desde 2005, o painel registra, em tempo real, o montante de tributos pagos.
- Para computar a arrecadação tributária, o painel contabiliza todos os pagamentos feitos pelos brasileiros à União, estados e municípios em tributos como impostos, taxas, multas e contribuições.
- Entre os tributos monitorados estão Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto Sobre Serviços (ISS), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
- A arrecadação de impostos é um mecanismo para financiar serviços essenciais à população, como, por exemplo, saúde, educação, moradia e segurança. Tal compromisso, inclusive, está previsto na Constituição Federal.
Por que bateu os R$ 2 tri tão rápido?
Para Ulisses Ruiz de Gamboa, economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV), uma combinação de fatores impulsionou a arrecadação tributária em 2025, com destaque para o aquecimento da atividade econômica.
“A inflação também teve papel relevante, já que o sistema tributário brasileiro é majoritariamente baseado em impostos sobre o consumo, que incidem diretamente sobre os preços dos bens e serviços”, explica o economista.
Além disso, segundo ele, o avanço da arrecadação se deve a fatores como:
- a elevação das alíquotas do ICMS;
- a tributação das chamadas “offshores” (empresas constituídas no exterior);
- a reoneração dos combustíveis;
- as mudanças na tributação de incentivos fiscais dos estados; e
- a retomada do voto de qualidade do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).
Apesar da alta arrecadação até agora, Ruiz de Gamboa pondera que as perspectivas para o restante do ano são mais modestas, diante do alto patamar da taxa básica de juros, a Selic, que tende a conter o crescimento econômico.
A taxa Selic está em 15% ao ano após o Comitê de Política Monetária (Copom) engatar a sétima elevação consecutiva no ciclo de aperto monetário. Em contrapartida, o Copom indicou o fim da onda de altas nos juros.
As medidas do governo e melhora na fiscalização
Para Cristina Helena Pinto de Mello, professora de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o Brasil tem cobrado tributos de forma “mais eficiente”, o que ajuda a explicar o aumento da arrecadação.
No entanto, não enxerga que houve um aumento expressivo da carga tributária.
“O que vai explicar o aumento da arrecadação, para além dessa base que cresceu e está crescendo [atividade econômica], é o fato de que tem uma eficiência tributária maior e o governo está, sim, tentando fazer um aumento da carga tributária”, diz.
Mello argumenta que o aumento da carga tributária ocorreu em razão da “distorção tributária enorme”, herdada da década de 1980. Para a professora, esse desequilíbrio é resultado da cobrança de impostos indiretos, que considera menos justos.
“Com a redemocratização, a gente acabou cobrando muitos impostos indiretos, porque eles eram mais fáceis de arrecadar e as pessoas não entendiam que estavam pagando, de fato, esse imposto”, declara.
“Tem uma questão de uma facilidade política na cobrança do imposto indireto, mas o imposto indireto é muito ruim. Ele é regressivo, cobra mais percentualmente de quem é mais pobre do que de quem é mais rico”, acrescenta Mello.
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Enrico Gazola, economista e sócio-fundador da Nero Consultoria, afirma que a escalada do Impostômetro resulta de três vetores principais: expansão nominal da economia; reversão de desonerações (como a dos combustíveis) e criação de novas fontes de receita (como a taxação de offshores e apostas); e melhora na fiscalização eletrônica da Receita Federal.
No caso das mudanças na desoneração e criação de fontes de receita, Gazola ressalta que o resultado das medidas é “um crescimento da carga tributária bruta que já ultrapassa 32 % do PIB [Produto Interno Bruto], algo que o Brasil não via há 15 anos”.
“Em suma, a marca de R$ 2 trilhões é, ao mesmo tempo, um termômetro da resiliência nominal da economia e um sinal de que a política fiscal continua a preferir a rota mais fácil — ampliar a fatia da torta em vez de fazer dieta”, expõe.
O economista defende que o governo apresente “um plano crível” de contenção de gastos e revisão de subsídios. Sem isso, ainda conforme ele, a discussão seguirá centrada em aumentos pontuais de alíquotas e novas bases de incidência.
“A pergunta deixa de ser quando romperemos outro recorde no Impostômetro; passa a ser quanto crescimento estamos dispostos a sacrificar para sustentá-lo?”, indaga Gazola.
Fonte: Metrópoles