O líder indígena Isaka Ruy, da etnia Huni Kui, acusado de estuprar a turista chilena Loreto Belen Manzo, estava sendo monitorado pela polícia antes de o crime ser comunicado na delegacia, segundo afirma nota da Segurança Pública do Acre.
Isaka, com 6.741 seguidores no Insta, é considerado foragido da justiça.
“Enquanto aguardávamos a formalização do mandado, o suspeito fugiu do local. Nossas equipes estão empenhadas em localizá-lo e efetuar a prisão”, disse o delegado Diones Lucas.
Inicialmente, a turista denunciou a violência sexual em seu perfil no Instagram, aos prantos (veja a transcrição abaixo).
Em seguida, foi à polícia.
O crime tem repercussão internacional, e ocorreu durante uma vivência cultural na Aldeia Me Nia Ibu (São Francisco), no município de Feijó. no final de maio.
“Cheguei à aldeia San Francisco no dia 15 de maio. No dia 19, Isaka ruy, ele tomou dois banhos medicinais, um dos quais envolveu inserir as mãos nos meus genitais. Tenho vídeos disso. Achei normal porque não pensava mal dele. Alguns dias depois, fizemos uma dieta nas profundezas da selva por seis dias. Lá, ele tentou me beijar, e eu fiquei muito confusa. Naquela noite, tomamos o medicina, e o medicina me mostrou suas verdadeiras intenções. Então voltamos para casa e consegui falar com a esposa iriki, a mãe e o pai dele. Todos se desculparam profusamente e me disseram para apagar o vídeo. Eu o apaguei, mas o havia enviado como backup para outra pessoa por motivos de segurança.
Depois de todos os pedidos de desculpas, Eles me disseram que eu poderia participar da experiência sem pagar. eu queria ficar mais tempo porque ia aprender, e ainda sentia que não estava cumprindo meu objetivo. No entanto, fui me hospedar na casa do irmão dele e da esposa dele. Depois de um tempo, vi muitas coisas na medicina de Isaka e quis conversar com ele… porque sentia uma profunda irmandade por ele. Então ele me disse que poderíamos conversar perto da árvore samauma, que fica no meio da selva, a uns 20 minutos de caminhada da casa. Fomos até lá e eu contei a ele tudo o que a medicina havia me mostrado. E ele começou a me dizer que queria que eu fosse sua parceira, que sentia amor, que queria tudo comigo, e então eu lhe disse que éramos irmãos, que não éramos.
Então ele começou a se jogar em mim, me beijando e me apalpando até me estuprar. Depois de alguns minutos, Iriki chegou e me bateu com um pedaço de pau gigante. Saí correndo de lá e fui para a casa dos meus pais. Quando eles voltaram, ela só queria que eu fosse embora, e ele também. Mandaram alguém buscar minhas coisas na casa do irmão dele, mas ele não quis fazer isso. No dia seguinte, a mãe dele roubou meu celular porque continha evidências do abuso e de que eu havia sido espancada. Esperei mais alguns dias para receber meu telefone de volta, mas ninguém atendeu. Finalmente, fui embora, registrei um boletim de ocorrência e voltei para o Chile.
Belen afirma que chegou na aldeia no dia 15 de maio e, no dia 19, viveu a primeira situação de assédio: durante um banho medicinal, o indígena teria inserido as mãos em suas partes íntimas. O momento foi registrado pela chilena em uma gravação. Alguns dias depois, ele teria tentado beijá-la a força, pontua o Portal Metrópoles, que segue:.
Ao voltar para aldeia, a turista teria contado a situação para os pais do indígena e para Iriki, esposa de Isaka, que, segundo ela, se desculparam e pediram para apagar o vídeo. Após a situação, a família afirmou que ela poderia participar da experiência sem pagar e ela passou a ficar hospedada na casa do irmão do líder.
De acordo com o delegado titular da unidade, Dione Lucas, após o registro do boletim de ocorrência e apresentação de provas, como vídeo do suposto ritual, registros de pagamento e sinais evidentes de lesões, a Polícia Civil representou de imediato pela prisão preventiva do suspeito, o líder indígena Isaka Ruy. O mandado de prisão foi deferido pelo Poder Judiciário e está em vigor.
“Assim que tivemos elementos suficientes e consistentes apresentados pela vítima, solicitamos a prisão preventiva do investigado, que foi prontamente acatada pela Justiça. No entanto, enquanto aguardávamos a formalização do mandado, o suspeito fugiu do local. Nossas equipes estão empenhadas em localizá-lo e efetuar a prisão. Esperamos concluir a investigação até a próxima quarta-feira”, explicou o delegado Dione Lucas.
A Polícia Civil destaca que já vinha monitorando os passos do investigado e estava próxima de efetuar a prisão, mas a divulgação pública do caso por parte da vítima, compreensível sob o ponto de vista emocional, acabou por prejudicar momentaneamente a ação policial, permitindo que o suspeito escapasse antes da efetivação do mandado.
Loreto Belen relatou que contratou e pagou por uma imersão cultural na comunidade indígena. Durante a vivência, foi levada pelo suspeito para a mata sob o pretexto de realizar um ritual específico, onde o abuso sexual teria ocorrido. Parte da ação foi registrada por ela em vídeo, antes de ter o celular tomado e de ser agredida e expulsa da aldeia. Com o apoio da Assistência Municipal para Mulheres, ela procurou a delegacia e entregou os registros que embasaram o pedido de prisão.
A PCAC reforça seu compromisso com a apuração rigorosa dos fatos e com a responsabilização de eventuais autores de crimes, assegurando que a investigação segue em curso com prioridade e absoluto respeito à vítima, aos trâmites legais e aos direitos de todos os envolvidos.