Com a promessa de retomar uma postura dura em relação ao comércio exterior, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9/7) uma nova taxação sobre produtos brasileiros, caso volte ao cargo em 2025. A medida, segundo ele, mira “proteger empregos americanos” e conter a influência chinesa sobre parceiros comerciais estratégicos, como o Brasil.
A nova postura protecionista de Trump reacende os temores de uma guerra comercial com desdobramentos significativos para a economia brasileira. Diante desse cenário, economistas ouvidos pela reportagem apresentam análises distintas sobre os efeitos e as razões da medida.
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Para o economista Abner Jackson Teodoro de Souza, o impacto imediato será negativo: “Donald Trump com esse novo tarifaço tende a pressionar nossa economia brasileira, buscando vantagens que o mercado não pode naturalmente estabelecer, tendo em vista a vasta competitividade brasileira em diversos setores produtivos e a natural dependência americana de produtos brasileiros”.
Segundo ele, o reflexo inicial será a instabilidade nos mercados financeiros: “Certamente o primeiro impacto será no mercado acionário brasileiro, gerando instabilidade e incertezas, devendo refletir na cotação do dólar com desvantagem para o real e queda da bolsa brasileira”.
Apesar do cenário adverso, Abner aponta possíveis oportunidades que podem surgir da medida: “Alguns produtos brasileiros podem ser facilmente substituídos, todavia, os outros países também podem receber tarifas iguais ou maiores que as já impostas, gerando outras oportunidades para o nosso mercado; como também a abertura de novos mercados”.
Ele acredita, no entanto, que a estratégia de Trump tem forte componente político, já que a grande maioria das tarifas são apenas para “chamar à mesa” novas negociações que tendem a buscar vantagens para a economia.
Já o economista André Bura contextualizou a medida dentro de um cenário global de guerra híbrida e reconfiguração de poderes geopolíticos: “É uma guerra híbrida; a guerra comercial é uma das facetas. E o que os Estados Unidos querem? Eles estão tentando fazer uma aliança, trazer a Europa mais pro lado deles, porque eles estão percebendo o crescimento chinês”.
Segundo ele, o aumento tarifário de Trump tem relação direta com a crescente presença chinesa no Brasil: “O Trump percebeu que a China estava querendo invadir muitos locais aqui no Brasil, inclusive. Você já tem hoje uma penetração chinesa muito grande de compra de terras, de minérios estratégicos, comércio em geral”.
André também prevê consequências práticas imediatas, especialmente sobre o câmbio, a inflação e a balança comercial: “Essa medida do Trump vai inibir um pouco as nossas exportações para os Estados Unidos. Então vai pesar na nossa balança comercial ao que parece. Consequentemente deve diminuir a nossa arrecadação fiscal, isso já não é um cenário nada bom para o Brasil que já está ficando ruim no cenário fiscal. Dizem que o Lula nem vai conseguir ser reeleito por conta disso. […] Você tende a ter um aumento da inflação por conta de muitos produtos especialmente de tecnologia mais de ponta que o Brasil importa”.
Ele alerta ainda para os riscos fiscais e a possível estagnação econômica: “O Brasil deve começar a tributar menos porque vai exportar menos e o risco deve aumentar, a Selic não deve cair e pode até subir. Consequentemente é empurrar o Brasil mais ainda para a recessão”.
As análises revelam que, embora os efeitos práticos da medida ainda dependam de sua aplicação concreta, e de como o Brasil responderá, o tarifaço proposto por Trump já afeta as expectativas do mercado e acirra os debates sobre os rumos da economia brasileira.
Fonte: Portal LEODIAS