Juliana Marins, de 26 anos, pode ter sobrevivido por até 32 horas após sofrer uma queda durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia. A informação foi revelada nesta sexta-feira (11) por peritos durante coletiva organizada pela Defensoria Pública da União, no Rio de Janeiro.
O dado faz parte do laudo da nova necropsia realizada no Instituto Médico Legal (IML), com base em exames entomológicos — estudo de larvas presentes no corpo da vítima — e representa uma das principais descobertas da investigação brasileira.
Segundo o legista Reginaldo Franklin Pereira, da Polícia Civil do Rio, a equipe identificou larvas no couro cabeludo e na região torácica de Juliana. Com o apoio da entomologista forense Janyra Oliveira Costa — considerada uma das maiores especialistas do país — foi possível, a partir da espécie, da postura dos ovos e do tempo de desenvolvimento, estimar retroativamente o momento da morte.
“A estimativa indica que Juliana morreu por volta do meio-dia do dia 22 de junho, horário da Indonésia. Como a queda ocorreu às 4h da manhã do dia 21, ela pode ter permanecido viva por até 32 horas”, afirmou o legista.
A causa da morte foi definida como politraumatismo, com lesões extensas causadas por impacto. Ainda segundo os peritos, a última queda teria provocado ferimentos fatais, e Juliana teria resistido por no máximo 15 minutos após essa etapa, sofrendo uma morte extremamente dolorosa.
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1 de 5Imagens mostram Juliana durante a trilha • Reprodução/Redes Sociais
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2 de 5Imagens mostram Juliana durante a trilha • Reprodução/Redes Sociais
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3 de 5Imagens mostram situação do local em que Juliana desapareceu • Reprodução/Redes Sociais
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4 de 5Imagens mostram situação do local em que Juliana desapareceu • Reprodução/Redes Sociais
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5 de 5Fizemos isso pela vista, diz brasileira em vídeo antes de cair em vulcão • Reprodução/Redes Sociais
“Foi um processo de sofrimento, com dificuldade respiratória enorme. Os alvéolos pulmonares estavam cheios de sangue, o que impede a entrada de oxigênio. Entra-se numa agonia respiratória e, em seguida, ocorre a morte”, explicou o perito Nelson Massini.
Ainda segundo Massini, os relatos obtidos na Indonésia e as análises laboratoriais indicam que Juliana enfrentou um processo de morte prolongado, não imediato, o que amplia a dor da família e levanta questionamentos sobre o atraso no resgate.
Relembre o caso
Juliana caiu durante uma trilha no Monte Rinjani, na ilha de Lombok, em 21 de junho. Segundo testemunhas, ela foi ouvida pedindo socorro por mais de 14 horas após a queda. O resgate, no entanto, demorou cerca de quatro dias. O corpo só foi retirado da montanha no dia 25, com ajuda de voluntários e equipes locais. A primeira autópsia foi realizada na Indonésia, mas considerada inconclusiva quanto ao momento da morte. A família solicitou nova análise no Brasil, que foi autorizada pela Justiça Federal.
O novo laudo pericial foi apresentado na sede da DPU no Centro do Rio, em coletiva que contou com a presença da defensora pública federal Taísa Bittencourt Leal Queiroz, dos peritos e da família da jovem. Os especialistas reiteraram que a estimativa não tem margem de precisão absoluta, mas é sustentada por referências científicas internacionais e metodologias forenses amplamente utilizadas.
“Determinamos o momento da morte com base na ciência, não em suposições. A entomologia forense nos deu esse suporte técnico”, concluiu Reginaldo Franklin.
O caso segue em investigação pelas autoridades brasileiras, incluindo a Polícia Federal. O inquérito corre sob sigilo.