Com 154 registros, o primeiro semestre de 2025 bateu recorde na série histórica de tiroteios entre grupos armados na região metropolitana do Rio de Janeiro. O número representa um aumento de 48% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o relatório semestral do Instituto Fogo Cruzado. O período também apresentou o maior índice já registrado de tiroteios durante ações policiais. Vila Isabel, na Zona Norte, permaneceu como o bairro mais afetado pela violência armada. Entre as mulheres baleadas, uma em cada quatro foi atingida dentro da própria casa.
Apesar da queda de 8% no número total de tiroteios registrados — 1.233 neste ano contra 1.346 em 2024 —, os confrontos entre grupos armados e a participação policial aumentaram. Segundo o levantamento, o número de tiroteios entre facções cresceu, assim como a proporção de ocorrências com envolvimento de forças de segurança, que passou de 34% em 2024 para 41% neste semestre.
Os tiroteios em disputas armadas se concentraram no Morro dos Macacos, Complexo do Fubá, Morro do Juramento e Catiri, que juntos responderam por 57% das ocorrências desse tipo.
Em relação à presença policial, 504 tiroteios contaram com envolvimento de agentes do Estado. De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, esse é o maior percentual registrado desde 2017. A média no semestre foi de três tiroteios por dia na região metropolitana.
O número de pessoas baleadas também cresceu. Foram 816 vítimas — 406 mortas e 410 feridas. Em comparação com o mesmo período de 2024, houve aumento de 6% no número de mortos e de 14% no de feridos. Mais da metade (52%) foi baleada durante ações ou operações policiais.
Vila Isabel, que já havia liderado em 2024, novamente registrou o maior número de tiroteios entre os bairros da região metropolitana, com 66 ocorrências — 27% a mais que Cascadura, o segundo colocado. Já Bangu foi o bairro com o maior número de pessoas baleadas, com 28 vítimas no semestre.
Entre as vítimas de disparos, 10 eram crianças de até 11 anos, das quais sete foram atingidas por balas perdidas e quatro durante ações policiais. Entre adolescentes de 12 a 17 anos, foram registrados 18 baleados, sendo que 10 ocorreram em ações policiais e cinco foram vítimas de balas perdidas. Também foram registrados 20 idosos baleados.
Das 60 mulheres atingidas por tiros no semestre, 15 estavam dentro de casa no momento dos disparos. Segundo o relatório, isso equivale a uma em cada quatro mulheres baleadas na região metropolitana no período. Houve ainda 10 casos de mulheres baleadas em feminicídios ou tentativas de feminicídio.
A identificação racial foi possível em 15% dos casos. Entre as 125 vítimas com cor/raça identificada, 70% eram negras e 30% brancas.
Trabalhadores informais também foram afetados: nove entregadores, 14 motoristas de aplicativo e dois ambulantes foram baleados. Entre os agentes de segurança, 66 foram atingidos — 46 eram policiais militares. Dos baleados, 31 estavam fora de serviço, 28 em serviço e sete eram aposentados ou exonerados.
O relatório também apontou 23 chacinas no semestre, com 84 mortos. Em 17 delas (74%), houve participação de agentes do Estado, totalizando 64 mortos. O número de chacinas foi o mesmo de 2024.
Quanto às balas perdidas, 61 pessoas foram atingidas — 14 morreram e 47 ficaram feridas. Em 37 desses casos, os tiros ocorreram durante ações ou operações policiais, o que representa 61% das vítimas desse tipo.
Das 1.233 ocorrências mapeadas, foi possível identificar a motivação em 70% dos casos. A maioria foi causada por ações ou operações policiais (504), seguida por disputas entre grupos armados (154), homicídios ou tentativas (124) e roubos ou tentativas de roubo (112).
O relatório é produzido semestralmente pelo Instituto Fogo Cruzado, que coleta e valida dados sobre violência armada em tempo real por meio de sua base aberta e colaborativa.