Violência armada cresce no Recife, Salvador e Belém, segundo relatório

O primeiro semestre de 2025 registrou aumento no número de tiroteios e de vítimas baleadas em disputas entre grupos armados nas regiões metropolitanas de Salvador (BA), Recife (PE) e Belém (PA). É o que mostra o levantamento do Instituto Fogo Cruzado, que analisou os dados entre janeiro e junho deste ano.

Na Região Metropolitana do Recife, o número de tiroteios motivados por disputas entre facções criminosas bateu recorde: foram 18 confrontos, que deixaram 16 mortos e 11 feridos. No mesmo período do ano passado, havia sido registrado apenas um tiroteio do tipo, sem vítimas. A capital pernambucana concentrou um terço dos casos, seguida por Olinda e Paulista.

Além disso, Pernambuco teve recorde de vítimas de balas perdidas: 39 pessoas atingidas, sendo 35 mortas. O número também representa o semestre mais violento para crianças na região desde o início da série histórica. Dez foram baleadas — duas morreram e oito ficaram feridas. A maioria das vítimas de balas perdidas foi atingida durante homicídios ou tentativas.

Nos seis primeiros meses de 2025, houve uma redução no número total de tiroteios e vítimas. Apesar disso, alguns indicadores apontaram aumentos expressivos. Um dos mais preocupantes é o crescimento de ocorrências motivadas por “disputas”.

Esse tipo de crime também se reflete em outro dado alarmante: o aumento de crianças baleadas. Pelo menos duas foram atingidas em contextos relacionados a disputas territoriais. Adolescentes, assim como as crianças, também vêm enfrentando uma escalada na violência desde 2022.

“Até o momento, nenhuma medida concreta de prevenção à violência voltada para essa faixa etária foi implementada. O governo do estado pode celebrar a queda em algumas estatísticas, mas fica claro que indicadores isolados não são suficientes para dar conta de uma realidade tão complexa, sobretudo quando dobra o número de crianças baleadas de um ano para o outro”, avalia Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco.

Em Salvador e região metropolitana, o Fogo Cruzado identificou 81 tiroteios envolvendo disputas entre grupos armados, que resultaram em 45 mortos e 28 feridos. Os números são semelhantes aos do primeiro semestre de 2024, mas a violência aumentou em ações policiais. O total de mortos em chacinas cometidas por agentes do Estado saltou de 17 para 57 — crescimento de 235%. Também houve aumento de 367% no número de adolescentes baleados em operações policiais.

Tailane Muniz, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado na Bahia, ressalta que os números do primeiro semestre são preocupantes e mostram que Salvador e RMS parecem seguir uma trajetória sem considerar as evidências.

“Os dados do primeiro semestre de adolescentes e chacinas policiais mostram que a Bahia continua insistindo numa fórmula que deu errado: a política do confronto para fazer segurança pública. Foi essa política que nos trouxe até aqui e não há sinais, pelo menos é o que vemos nos dados, de que ela será repensada. Ao menos 40% dos adolescentes foram baleados durante ações e operações policiais”, afirma.

Já na Região Metropolitana de Belém, embora o número total de tiroteios tenha caído de 312 para 292, houve crescimento na violência letal em recortes específicos. Quase metade dos confrontos (48%) ocorreram durante ações policiais — 139 registros no semestre, alta de 9% em relação a 2024. Todas as quatro chacinas mapeadas aconteceram em ações do tipo, com 14 mortos, um aumento de 16%.

O Pará também registrou casos de tiroteios com mortes em três comunidades quilombolas. Entre os municípios com maior número de vítimas, destacam-se Belém (91 mortos), Ananindeua (52) e Marituba (30). Em relação a faixas etárias, quatro idosos foram mortos — crescimento de 33% em relação ao mesmo período do ano passado.

“A atuação policial nas periferias urbanas e em territórios de comunidades tradicionais segue sendo motivo de grande preocupação. O aumento das mortes em ações policiais, especialmente em comunidades quilombolas, mostra que o uso da força pelo Estado continua afetando de forma desproporcional populações já vulnerabilidades”, analisa Eryck Batalha, coordenador regional do Instituto Fogo Cruzado no Pará.

Os governos da Bahia, Pernambuco e Pará foram procurados pela CNN, mas não responderam até a publicação desta matéria.

 

*Sob supervisão de Pedro Osorio 

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