As Nações Unidas alertaram no domingo (20) sobre a piora da crise humanitária em Gaza, com um aumento acentuado no número de crianças desnutridas internadas no Hospital Infantil de Rantisi devido à grave escassez de alimentos e suprimentos médicos.
“Casos críticos estão chegando ao Hospital de Rantisi e exigem internação e tratamento adequado”, disse o Dr. Ragheb Warshagha, chefe de gastroenterologia do hospital, à ONU.
“As próprias mães sofrem de desnutrição e falta de leite, o que leva à desnutrição infantil — especialmente em relação ao peso. Isso, por sua vez, causa infecções graves e, às vezes, morte devido à imunidade enfraquecida pela má nutrição.”
A ONU afirmou que bebês como Sham Maqattah estão entre os que sofrem.
“Não há leite e eu não tenho nutrição para amamentá-la naturalmente”, disse a mãe de Sham à ONU.
“A saúde dela piorou… Esperamos que leite e fraldas para crianças sejam permitidos (para entrar no território) e que as passagens sejam abertas para entrada de alimentos.”
Outra mãe, que teve o filho Hussam al-Turamsi internado na sexta-feira (18) e está sobrevivendo com soro intravenoso, descreveu as condições como terríveis.
“Devido à situação atual, não há leite, nem comida, nem água. Isso é fome. Não consigo atender às necessidades do meu filho”, disse ela à ONU.

A Organização das Nações Unidas também documentou famílias com gêmeos lutando para encontrar leite.
“Meus dois filhos sofrem de desnutrição grave. Não conseguimos encontrar leite para eles e não sabemos o que fazer”, disse um pai.
Em campos de palestinos deslocados, a ONU observou pessoas pegando restos de alimentos depois que as cozinhas comunitárias ficaram sem suprimentos.
No dia 19 de maio, Israel suspendeu o bloqueio de 11 semanas de ajuda humanitária a Gaza, permitindo a retomada de entregas limitadas da ONU. No entanto, a UNRWA (Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo) continua proibida de levar ajuda para o território.
A COGAT, agência israelense de coordenação de ajuda militar, afirmou ter facilitado a entrada de 67.000 caminhões de alimentos em Gaza, entregando 1,5 milhão de toneladas de alimentos, incluindo fórmulas para crianças e papinhas.
A agência também afirmou que cerca de 2.000 toneladas de papinhas foram trazidas para Gaza através das travessias nas últimas semanas, atendendo a pedidos de organizações internacionais de ajuda humanitária.
Israel e os Estados Unidos acusaram o grupo militante palestino Hamas de roubar recursos de operações de ajuda lideradas pela ONU, o que o Hamas nega.
Para evitar esses supostos roubos, os dois países passaram a financiar a GHF (Fundação Humanitária de Gaza), utilizando empresas privadas americanas de segurança e logística para transportar ajuda para centros de distribuição, com as quais a ONU se recusou a trabalhar.
O UNICEF informou que, no mês passado, mais de 5.800 crianças foram diagnosticadas com desnutrição em Gaza, incluindo mais de 1.000 crianças com desnutrição aguda grave. A organização afirmou que esse foi o quarto mês consecutivo de aumento da condição.