A menos de uma semana da entrada em vigor do tarifaço americano contra o Brasil e sem qualquer sinal positivo da Casa Branca, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) direcionou nesta sexta-feira (25) suas críticas a Jair Bolsonaro (PL) e à influência do entorno do ex-presidente sobre Donald Trump.
Os filhos de Bolsonaro, por sua vez, dobraram a aposta nos pedidos de anistia e de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), com cobranças ao Congresso Nacional.
Enquanto isso, parlamentares do centrão aproveitam o recesso extraoficial do Congresso. Estão viajando ou articulando de olho nas eleições de 2026 nas respectivas bases eleitorais.
Os parlamentares do centrão ajudaram a aprovar a Lei da Reciprocidade, por exemplo. Mas, desde o agravamento das tensões com os Estados Unidos, evitam se envolver diretamente no embate do tarifaço. Não querem comprar a briga apenas da esquerda ou da direita.
Na sexta (25), em tom direto, Lula afirmou que Trump foi “induzido a uma mentira” pelos aliados de Bolsonaro.
“Se o presidente Trump tivesse me ligado, eu explicaria o que está acontecendo. Ele foi induzido a acreditar numa mentira de que o Bolsonaro está sendo perseguido. Não está. Ele está sendo julgado, com todo o direito de defesa”, disse o presidente.
Ministros do governo admitem que há uma obstrução política nas tentativas de diálogo com Washington, com pouca margem de manobra para reverter o cenário.
Lula ainda fez menção ao esforço diplomático de Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente, ministro da Indústria e articulador nas negociações com os americanos: “Ninguém pode dizer que o Alckmin não quer conversar. Todo dia ele liga para alguém e ninguém quer conversar com ele”, declarou.
Em um gesto simbólico, Lula ergueu uma bandeira do Brasil ao lado de ministros e aliados, em resposta à ação de deputados bolsonaristas que levantaram uma bandeira de Donald Trump dentro da Câmara no início da semana. Em referência indireta aos filhos de Bolsonaro, Lula criticou: “Estão trocando o Brasil pelo pai”.
Enquanto isso, a ala bolsonarista do Congresso segue apostando em uma radicalização do discurso.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) defendeu nesta sexta-feira a reversão da inelegibilidade do pai como solução para a crise com os EUA.
“A solução está aqui no Brasil. Se a gente fizer as eleições com Jair Bolsonaro nas urnas, acaba a sanção no mesmo dia. A maior democracia do mundo não vai nos tratar como Venezuela”, afirmou.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por sua vez, passou a pressionar pela votação da anistia ao pai e a investigados na suposta tentativa de golpe de Estado e pelo andamento do pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes.
Eduardo chegou a sugerir que os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), podem ter os vistos suspensos e enfrentar sanções dos EUA caso não atendam às demandas do grupo.
Procurados, os presidentes das Casas preferiram não se manifestar.
Nos bastidores, lideranças avaliam que as ameaças de Eduardo Bolsonaro são interpretadas como chantagem e não têm perspectiva de prosperar. A tendência é de que tanto o projeto da anistia quanto o pedido de impeachment de Moraes continuem paralisados.
Até mesmo senadores ligados ao bolsonarismo estão desconfortáveis com a escalada retórica de Eduardo.
Uma delegação de senadores, incluindo membros da direita, embarca neste fim de semana para Washington, mas tem evitado divulgar a agenda oficial por receio de boicote do próprio Eduardo.
No momento, o governo brasileiro não trabalha com a possibilidade de um contato direto entre Lula e Trump, nem planeja enviar uma comitiva oficial a Washington.
Com poucas cartas na manga, a aposta agora é em articulações do setor privado para adiar a aplicação das tarifas — o que já seria considerado uma vitória política.