Uma dieta inspirada nas cores da bandeira do Brasil mostrou ser capaz de reduzir os níveis de colesterol alto em pessoas com histórico familiar de hipercolesterolemia, e ainda diminuiu o risco de doenças cardiovasculares para esses pacientes.
Elaborada por médicos e nutricionistas do Instituto de Pesquisa do Hospital do Coração (Hcor), de São Paulo, a dieta se mostrou segura, bem aceita entre os voluntários e com efeitos relevantes para a melhora da saúde e redução do colesterol.
Como reduzir o colesterol alto?
- Cuide da alimentação: é preciso evitar gorduras trans e saturadas presente em frituras e industrializados para ajudar a controlar o colesterol ruim. Prefira azeite, abacate, peixes e alimentos ricos em fibras.
- Mexa-se: exercícios aeróbicos como caminhada e natação aumentam o HDL (colesterol bom), e reduzem o LDL (conhecido como colesterol ruim) que se acumula mais nas artérias, protegendo assim o coração.
- Emagreça: perder peso, mesmo que pouco, já pode ajudar a reduzir os níveis de colesterol total e melhorar a saúde cardiovascular, especialmente em pessoas obesas.
- Evite os vícios: Parar de fumar melhora o HDL e reduz o risco de doenças do coração. Reduzir o álcool também pode ter um efeito positivo, especialmente ao melhorar a saúde do fígado.
A dieta, chamada DICA-HF, é uma versão adaptada para o estudo da já conhecida Dieta Cardioprotetora Brasileira, também conhecida como DICA BR. A nova versão foi pensada para adultos com hipercolesterolemia familiar, condição hereditária que aumenta o risco de infartos em idade precoce.
A pesquisa foi publicada este mês, na revista Nutrients. O ensaio clínico foi feito com 58 voluntários. A equipe acompanhou os participantes por 120 dias, avaliando não apenas a adesão alimentar, mas também parâmetros clínicos e laboratoriais.
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Como é o cardápio da dieta?
A DICA-HF utiliza um sistema de cores inspirado na bandeira do Brasil para facilitar escolhas alimentares, sem um cardápio fechado, mas ensinando o equilíbrio para a melhor saúde do coração.
- Verde: indica alimentos in natura, como frutas e legumes;
- Amarelo: marca cereais e leguminosas;
- Azul: corresponde a carnes e laticínios.
Segundo os pesquisadores, a ingestão dos alimentos deve ser proporcional às cores na bandeira. O objetivo é garantir equilíbrio no prato e promover a adesão à dieta com base na cultura alimentar local. Produtos ultraprocessados são evitados.
“Uma alimentação cardioprotetora envolve não apenas a escolha dos alimentos, mas também a proporção adequada entre os diferentes grupos no prato. Para compor uma refeição equilibrada, é importante respeitar a distribuição entre os grupos verde, amarelo e azul”, explica a nutricionista Aline Marcadenti, uma das líderes da investigação, em entrevista ao Metrópoles.
Segundo ela, um bom exemplo da dieta e de sua integração ao padrão brasileiro de alimentação é pensar um almoço com salada de alface com tomate, arroz, feijão e bife grelhado, nesta ordem de proporção.
“Nesse exemplo, o grupo verde está presente com duas folhas médias de alface e quatro rodelas de tomate. O amarelo aparece com uma concha média de feijão e duas colheres de arroz. O azul é representado por um bife grelhado pequeno. Essa combinação respeita a proporção ideal dos grupos alimentares e contribui para uma refeição completa e saudável”, exemplifica.
No café da manhã, frutas, pão e leite com café formam uma combinação adequada dentro dos três grupos alimentares. Uma boa dica para manter este equilíbrio é comer meio mamão pequeno, acompanhado de um café com leite desnatado, duas fatias de um pão caseiro e uma de queijo minas.
Mesmo os lanches devem priorizar alimentos in natura. Salada de frutas, castanhas, iogurte com frutas ou mix de frutas frescas são ótimas opções.
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O colesterol é um composto gorduroso essencial para produção da estrutura das membranas celulares e de alguns hormônios
Sebastian Kaulitzki/Science Photo Library/Getty Images
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No entanto, o que entendemos normalmente como colesterol é, na verdade, um somatório de diferentes tipos: os famosos HDL e LDL
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O LDL, conhecido como colesterol “ruim”, quando está em níveis altos, pode formar uma placa nas paredes das artérias, dificultando ou impedindo a passagem do sangue
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Quanto mais elevadas as taxas de LDL, maior o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC)
VSRao/https://pixabay.com
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Apesar de silencioso, alguns sinais podem dar indícios do problema
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São eles: xantelasmas e xantomas (pequenas bolinhas de gordura que aparecem na pele), dores na barriga, nos dedos dos pés e das mãos
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Para controlar o colesterol ruim é importante realizar, por exemplo, exercícios durante 30 minutos por dia, três vezes por semana
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Aumentar a ingestão de fibras solúveis, como farinha e farelos de aveia, que absorvem o excesso de colesterol no intestino e o eliminam do corpo
Tatyana Berkovich/istock
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Aumentar a ingestão de gorduras saudáveis, que estão presentes no azeite extravirgem e nos alimentos ricos em ômega 3
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E aumentar a ingestão de bebidas como chá-preto e suco de berinjela, que também ajudam no controle do colesterol
Tatyana Berkovich/istock
Resultados promissores em curto prazo
O estudo avaliou também a suplementação com fitoesteróis e óleo de krill, substâncias com potencial de melhorar o perfil lipídico. A adesão foi considerada alta: mais de 90% compareceram às consultas e cerca de 80% seguiram o uso dos suplementos.
Ao final dos 120 dias do experimento, os resultados mostraram queda na lipoproteína A. Essa proteína é associada ao risco de doenças cardiovasculares e pouco abordada nos tratamentos convencionais. Também houve redução no LDL oxidado, relacionado à formação de placas nas artérias. A combinação desses fatores aponta para benefícios além do simples controle do colesterol total, sugerindo um efeito mais amplo da dieta.
Nenhum evento adverso grave foi registrado, e todos os grupos do estudo relataram melhora na qualidade geral da alimentação. Isso fortalece o argumento de que mudanças na dieta, mesmo simples, podem ter efeitos importantes.
Condição é pouco diagnosticada
A hipercolesterolemia familiar é uma condição que aumenta o risco de eventos cardíacos graves antes dos 50 anos. A doença afeta cerca de uma em cada 300 pessoas no Brasil, no entanto, o diagnóstico é raro e muitos casos seguem sem acompanhamento.
A expectativa dos pesquisadores é que o modelo inspire programas de saúde pública voltados à prevenção de doenças cardiovasculares nessas populações de risco.
A investigação foi financiada pelo Instituto de Pesquisa do Hcor, com apoio do Ministério da Saúde e do Proadi-SUS. O próximo passo é testar a eficácia da DICA-HF em maior escala. Os autores ressaltam, porém, que a estratégia não substitui medicamentos em casos graves, mas pode ser usada em conjunto com eles.
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Fonte: Metrópoles