Cientistas australianos identificaram uma nova forma de combater cânceres agressivos e difíceis de tratar, como os que atingem o fígado, os pulmões e o estômago.
A estratégia se baseia na interrupção de um processo essencial dentro das células tumorais, chamado splicing menor, e mostrou resultados promissores em experimentos com animais e células humanas.
Publicado na revista EMBO Reports neste mês, o estudo revelou que interferir nesse mecanismo reduz o crescimento de tumores sem causar grandes danos às células saudáveis. O alvo é uma etapa crítica na produção de proteínas a partir do RNA, usada por cerca de 0,05% dos genes do genoma humano, mas que inclui muitos envolvidos na divisão celular acelerada, justamente uma das características do câncer.
Uma abordagem contra tumores difíceis de tratar
Enquanto o splicing principal é responsável pela maior parte da atividade genética, o chamado splicing menor afeta cerca de 700 genes que, embora sejam minoria, são fundamentais para a sobrevivência de tumores que apresentam mutações no gene KRAS, um dos mais frequentemente alterados em cânceres sólidos — aqueles que formam tumores em tecidos.
“As mutações no gene KRAS ocorrem em diferentes formas, o que as torna extremamente difíceis de tratar. Portanto, mesmo com décadas de esforço científico, houve apenas um progresso limitado até agora”, explicou a professora Joan Heath, do instituto de pesquisa médica WEHI, na Austrália, em comunicado.
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A pesquisadora destacou que, em vez de mirar as mutações diretamente, como muitas terapias fazem, a nova abordagem atinge um processo essencial, do qual os cânceres agressivos são altamente dependentes.
“A pesquisa oferece uma nova maneira de abordar um problema que há muito tempo resiste às abordagens convencionais, com o potencial de ajudar um grupo muito maior de pacientes”, diz Heath
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Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer é um dos principais problemas de saúde pública no mundo e é uma das quatro principais causas de morte antes dos 70 anos em diversos países. Por ser um problema cada vez mais comum, o quanto antes for identificado, maiores serão as chances de recuperação
boonchai wedmakawand
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Por isso, é importante estar atento aos sinais que o corpo dá. Apesar de alguns tumores não apresentarem sintomas, o câncer, muitas vezes, causa mudanças no organismo. Conheça alguns sinais que podem surgir na presença da doença
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A perda de peso sem nenhum motivo aparente pode ser um dos principais sintomas de diversos tipos de cânceres, tais como: no estômago, pulmão, pâncreas, etc.
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Mudanças persistentes na textura da pele, sem motivo aparente, também pode ser um alerta, especialmente se forem inchaços e caroços no seio, pescoço, virilha, testículos, axila e estômago
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A tosse persistente, apesar de ser um sintoma comum de diversas doenças, deve ser investigada caso continue por mais de quatro semanas. Se for acompanhada de falta de ar e de sangue, por exemplo, pode ser um indicativo da doença no pulmão
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Outro sinal característico da existência de um câncer é a modificação do aspecto de pintas. Mudanças no tamanho, cor e formato também devem ser investigadas, especialmente se descamarem, sangrarem ou apresentarem líquido retido
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A presença de sangue nas fezes ou na urina pode ser sinal de câncer nos rins, bexiga ou intestino. Além disso, dor e dificuldades na hora de urinar também devem ser investigados
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Dores sem motivo aparente e que durem mais de quatro semanas, de forma frequente ou intermitente, podem ser um sinal da existência de câncer. Isso porque alguns tumores podem pressionar ossos, nervos e outros órgãos, causando incômodos
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Azia forte, recorrente, que apresente dor e que, aparentemente, não passa, pode indicar vários tipos de doenças, como câncer de garganta ou estômago. Além disso, a dificuldade e a dor ao engolir também devem ser investigadas, pois podem ser sinal da doença no esôfago
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Bloqueio genético ativa mecanismo de defesa
A equipe reduziu a atividade de uma proteína ligada ao gene RNPC3, essencial para o splicing menor, e notou uma queda expressiva no crescimento dos tumores.
“Ao reduzir pela metade a quantidade dessa proteína, conseguimos diminuir significativamente a carga tumoral. Esse é um resultado impressionante, especialmente considerando o quão resilientes esses cânceres costumam ser”, afirmou Karen Doggett, primeira autora do estudo.
Os pesquisadores também mostraram que essa intervenção ativa a via p53, conhecida como “guardiã do genoma”. Trata-se de um mecanismo natural do corpo que, diante de danos ao DNA, interrompe a multiplicação celular, estimula o reparo genético ou leva as células comprometidas à morte.
“O bloqueio de pequenos splicings causa danos ao DNA e ativa essa resposta defensiva crítica, o que significa que cânceres com uma via p53 funcional provavelmente são especialmente vulneráveis a essa estratégia”, explicou Doggett.
Para encontrar compostos capazes de inibir o splicing menor, os cientistas fizeram uma triagem de mais de 270 mil moléculas no National Drug Discovery Centre, também no WEHI, e identificaram várias com potencial para avançar no desenvolvimento de medicamentos.
“Validamos o splicing menor como um alvo terapêutico convincente. Agora o desafio é desenvolver um composto medicamentoso que possa inibi-lo de forma segura e eficaz”, disse Heath.
Segundo os autores, o próximo passo é transformar a descoberta em uma terapia aplicável na prática clínica, o que pode representar uma nova esperança para pacientes com cânceres que hoje têm poucas opções de tratamento.
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Fonte: Metrópoles