No mês dedicado ao combate ao HIV e à Aids, o quarto onde Cazuza esteve internado no Rio de Janeiro ganha uma homenagem especial nesta terça-feira (9/12). 40 anos após o período em que o artista enfrentou os primeiros sintomas da doença, o hospital, que fica na zona sul do Rio de Janeiro, instala no local uma obra inspirada na história que daria origem a um dos maiores sucessos da carreira do artista, criado durante a internação.
Em 1985, internado com febre persistente e convulsões, Cazuza observava da janela a Mata Atlântica e os frequentes beija-flores que rondavam o quarto. A imagem marcou o artista e o inspirou a compor Codinome Beija-Flor, faixa do álbum Exagerado (1985). A música, que descreve um amor íntimo e misterioso, ainda segue envolta em especulações, já que nunca se soube ao certo para quem foi escrita.



Obra de Mario Pitanguy em homenagem a Cazuza
Divulgação/Agência Boat
Cazuza
Rosane Medeiros/Divulgação
Cazuza
Reprodução/Instagram @cazuza.oficial
Cazuza
Reprodução/Instagram @cazuza.oficial
Cazuza e Rogério Meanda
Reprodução/Instagram
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Cazuza
Reprodução/Instagram @cazuza.oficial
O quarto, ainda cercado pela vegetação que o cantor observava, agora irá abrigar uma escultura criada por Mario Pitanguy. A peça retrata um beija-flor diante de uma janela entre flores. No site do hospital, será possível fazer um tour virtual para conhecer a peça. Para Lucinha Araújo, mãe do artista, a intervenção simboliza mais que um tributo, mas também acolhimento aos pacientes.
“Esse projeto me deixa muito feliz por ajudar a perpetuar a obra do Cazuza”, declarou. “Eu espero que essa homenagem se constitua em um novo beija-flor aparecendo para outros pacientes. Que haja sempre um beijar flor nas suas vidas. Enquanto houver beijar-flor, vai haver esperança.”

Quando viveu esse período de internação, Cazuza ainda não havia recebido o diagnóstico de Aids, que só seria confirmado em 1987. A partir de 1989, quando assumiu publicamente a doença, o artista travou uma batalha aberta contra o preconceito, incluindo ataques homofóbicos e desinformação sobre o vírus. Sua resistência marcou o último disco de estúdio, Ideologia (1988), que abordou a morte, a hipocrisia, o cenário político e a economia brasileira.
Mesmo debilitado, Cazuza seguiu trabalhando. Poucos meses antes de morrer, apresentou o espetáculo O Tempo Não Para, dirigido por Ney Matogrosso, amigo e ex-namorado. O show se tornou histórico, mostrando o artista cantando com intensidade apesar do quadro debilitado e da pressão da mídia.

Cazuza morreu em julho de 1990, em decorrência de complicações da Aids. Sua trajetória se consolidou como um marco na luta contra o preconceito e na sensibilização sobre a doença no país.
Dezembro Vermelho
Em dezembro, o Brasil celebra o mês de conscientização sobre Aids, HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). O país é referência no enfrentamento ao vírus e registrou, em 2024, queda de 13% nos óbitos por Aids em comparação a 2023. O número de novos casos também diminuiu 1,5%, passando de 37,5 mil para 36,9 mil.
Outro avanço decisivo ocorreu em 2025: a eliminação da transmissão vertical, quando a infecção passa da mãe para o bebê. Segundo dados divulgados em 2024, 53,6% dos diagnósticos são de homens que fazem sexo com homens, percentual que reforça não apenas a necessidade de ampliar a prevenção entre outros grupos sociais, mas também evidencia o preconceito histórico que associa de forma equivocada o HIV exclusivamente à população homossexual.

A ampliação da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) também tem mostrado resultados. O método consiste na ingestão diária de um comprimido que reduz em 99% o risco de infecção, ainda que a combinação com o preservativos seja indispensável.
A PrEP e a PEP (tomada após uma exposição de risco) fazem parte da estratégia adotada pelo Brasil, que reúne diferentes ferramentas para reduzir o risco de transmissão. Desde 2023, o número de usuários de PrEP cresceu mais de 150%, chegando a 140 mil pessoas que utilizam o método.
Fonte: Metrópoles




