Do movimento das Diretas Já, nos estertores da ditadura, às Jornadas de Junho de 2013, o rosto que simboliza o pedido por mudanças, o dos jovens, está cada vez mais escasso na política partidária brasileira. Levantamento do GLOBO a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que a filiação de pessoas de 16 a 24 anos em partidos políticos chegou este ano ao menor patamar em uma década, embora a polarização tenha revertido as quedas de PL e PT a partir de 2020. Assim como a sigla que recebeu Jair Bolsonaro em 2021, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a crescer às vésperas das últimas eleições, mas divide terreno no campo da esquerda com o PSOL, que pela primeira vez lidera em número de jovens filiados entre todas as agremiações.
— A pessoa estava entrando na vida política, a partir dos 16 anos, e vivenciando um momento em que parte significativa da sociedade estava manifestando o seu desafeto com relação à política e aos partidos — avalia Soraia Marcelino Vieira, professora do Departamento de Geografia e Políticas Públicas da UFF.
Mudança de rota
Os petistas, no entanto, têm mais motivos que os demais para crer que vão retomar a presença dos militantes mais novos nas fileiras partidárias. O número atual representa quase o dobro do que a sigla registrou em 2020, quando sua maior figura histórica estava com direitos políticos suspensos e o retorno à Presidência da República ainda era uma ideia distante. Àquela altura, o PT chegou a ter apenas 9,1 mil jovens, na sequência de episódios traumáticos nos anos anteriores, sobretudo o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016 e a prisão de Lula em 2018. Agora, ao contrário de PSDB e MDB, o partido vem reconquistando a adesão dessa parcela de filiados, em movimento paralelo ao processo de volta da legenda ao poder.
— A luta política que aumentamos em 2022 fez com que alguns segmentos entendessem que era importante crescer a participação, sobretudo entre jovens. Vivemos quatro anos de muitas dificuldades — diz o diretor da Executiva Nacional da Juventude do PT, Mario Magno, em relação ao governo Bolsonaro.
Um exemplo do que diz Magno é a estudante Alice Felix, de 19 anos, que se filiou ao diretório do PT em Natal quando tinha apenas 16 anos.
— Eu vi tudo o que estava acontecendo ao meu redor e acabei me identificando com a organização do PT, e isso me levou à filiação. Naquele momento, eu queria exercer a minha cidadania dentro do partido, o que me dava mais espaço para conversar sobre as minhas pautas.
Apesar do crescimento de filiação de jovens, os dados de pesquisas de aprovação do governo no recorte de idade não são positivos. No último levantamento da Quaest, por exemplo, metade dos brasileiros de 16 a 34 anos diz que desaprova o governo. Trata-se do maior percentual entre os três blocos etários separados pelo instituto. Recentemente, um dos gestos de Lula para conquistar esse eleitorado foi o lançamento do programa Pé-de-Meia, que cria uma espécie de poupança para estudantes de baixa renda do Ensino Médio a fim de evitar a evasão escolar.